segunda-feira, 13 de outubro de 2014

DIRETRIZES CURRICULARES DO MUNICÍPIO DE CURITIBA

ALGUMAS PESSOAS TÊM ME PERGUNTADO COMO SE DÁ A REGULAMENTAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO NO MUNICÍPIO DE CURITIBA, POR QUE REALIZAMOS O TRABALHO DESTA FORMA, COMO FUNCIONA ESTE ENSINO NÃO PROSELITISTA, ETC. POE ESTE MOTIVO, COMPARTILHO COM VOCÊS AS DIRETRIZES CURRICULARES DO MUNICÍPIO DE CURITIBA. O DOCUMENTO É DE 2006 E DEVE, EM BREVE, PASSAR POR UMA REFORMULAÇÃO.


Fundamentos teórico-metodológicos para o Ensino Religioso


Em nosso país, desde a época da colonização até por volta da década de 70, o Ensino Religioso teve caráter catequético, perdurando uma concepção evangelizadora, cuja finalidade era a de fazer seguidores para a Igreja Católica Apostólica Romana. A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.° 5.692/71, o Ensino Religioso passou a centrar-se no desenvolvimento da religiosidade do estudante. Nesse âmbito, apresentava como conteúdo os valores humanos voltados para uma vivência ética, sem se ater a qualquer forma de doutrinação. A metodologia aplicada nessa

concepção objetivava o questionamento sobre a realidade do estudante e possíveis mudanças de atitudes constituídas pelo ver, julgar, agir e celebrar. A Lei n.° 9.475/97, que apresenta uma nova redação para o art.33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN - 9394/96), aponta novos avanços e perspectivas para o Ensino Religioso no âmbito escolar: ressalta a importância de se assegurar o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, veda qualquer forma de proselitismo e assegura ao estudante, como cidadão, o direito de ter acesso ao conhecimento sobre o fenômeno religioso. A escola pública não pode se eximir dessa responsabilidade, porém não pode abrir espaço para doutrinação, evangelização ou catequese nem impor aos estudantes práticas religiosas desta ou daquela igreja ou religião. As orientações para a adesão a alguma crença religiosa são responsabilidade da família e das comunidades de fé.
A Lei deixa claro que o Ensino Religioso não deve ser ministrado por voluntários ou pessoas alheias à educação. Os próprios professores é que devem assumir a tarefa. É de responsabilidade do
Sistema de Ensino e das Secretarias Municipais da Educação habilitar e atualizar devidamente os professores. De acordo com a legislação atual, é facultativa a freqüência às aulas do Ensino Religioso, mas obrigatória a oferta por parte da escola no horário normal, cabendo ao estudante fazer a opção de freqüência no ato da matrícula. Segundo a Resolução n.º 6.856/93 da SEED/PR, o estudante menor de 18 anos que optar pela não-freqüência necessitará de documento assinado pelo pai ou responsável. No caso de nãofreqüência, cabe à escola organizar programas e atividades que
possam atendê-lo no horário de trabalho dessa área, não podendo haver dispensa das aulas devido à obrigatoriedade do cumprimento das 800 (oitocentas) horas mínimas previstas no art. 23 da LDBEN 9394/96. O Ensino Religioso, como área do conhecimento e parte integrante da Base Nacional Comum, conforme a Resolução n.º 2 de 7 de abril de 1998 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, deve ser trabalhado sistematicamente, articulado às demais áreas, no horário normal das escolas. Tem objeto de estudo próprio, critérios e instrumentos de avaliação, metodologia, objetivos e conteúdos específicos.

Objeto de Estudo

O Ensino Religioso, como área do conhecimento, é diferente de “aula de religião”, ou catequese, ou da escola bíblica, ou ainda de qualquer modelo de doutrinação, não pressupondo a adesão e muito
menos o proselitismo ou a propagação de determinada crença religiosa. Sua especificidade é a decodificação ou a análise das manifestações do sagrado, possibilitando ao estudante o conhecimento e a compreensão do fenômeno religioso como fato cultural e social, bem como uma visão global de mundo e de pessoa, promovendo, assim, o respeito às diferenças no convívio social. O objeto de estudo do Ensino Religioso é o fenômeno religioso que compreende o conjunto das diferentes manifestações do sagrado no âmbito individual e coletivo. Esse fenômeno acontece no universo de uma cultura, é influenciado por ela e, conseqüentemente, também a influencia.

O Conhecimento Religioso

As tradições religiosas e místicas são fatos culturais e sociais que oferecem um vasto campo de investigação, permitindo ampliar a visão de mundo, compreender as manifestações do sagrado, enquanto transcendente/imanente, valorizar o conhecimento religioso como patrimônio da humanidade, construído ao longo da história de maneira bastante peculiar, em diferentes contextos geográficos e culturais. Desde os primórdios da história da humanidade, o ser humano defronta-se com grandes desafios e situações-limite: a enfermidade, a morte, a separação, o heroísmo, entre tantas outras. Diante desses acontecimentos da vida, muitas vezes se questiona: Quem sou? Por
que estou aqui? Para onde vou? O que acontece depois da morte? Qual é o sentido da vida? Na procura de respostas a essas questões surge o conhecimento religioso. Essas perguntas são a razão da busca empreendida pelos seres humanos através dos tempos, na tentativa de desvendar “o mistério”,
superar sua fragilidade e sua finitude. Como conseqüência, surgiram diferentes manifestações religiosas, místicas e filosóficas no transcurso da história. Assim, o conhecimento religioso é o conjunto das respostas sistematizadas às questões fundamentais da vida humana. A construção e a socialização desse conhecimento na escola devem promover uma abertura ao diálogo inter-religioso, na perspectiva dos valores comuns a todas as tradições, tendo por base a alteridade e o direito à liberdade de consciência e opção religiosa. O Ensino Religioso deve ser entendido como um processo interativo entre professores e estudantes, na busca da realização destes como seres humanos, reconhecidos e respeitados como cidadãos inseridos numa realidade plural, marcada pelas diferenças.

Avaliação

A avaliação faz parte do processo metodológico, portanto é um elemento integrador, no qual interagem estudante e professor. Ela permite que ambos conheçam o progresso alcançado e que o professor reelabore a sua prática pedagógica, quando necessário. Os critérios da avaliação estão vinculados à organização curricular e têm diferentes funções no processo ensino-aprendizagem.
Entende-se que é possível mapear o desenvolvimento dos estudantes através da análise de suas produções. Os registros da avaliação poderão ser efetivados por meio de tabelas, gráficos, listas e
pareceres descritivos, entre outros. São recomendadas também as atividades de auto-avaliação, escritas ou orais, por meio das quais o estudante verifica o seu progresso. Esse mapeamento de resultados informa se ele atingiu os objetivos e em que se deverá investir mais esforços para a superação das dificuldades na aprendizagem.

Metodologia e Tratamento Didático dos Conteúdos

A metodologia do Ensino Religioso deve contemplar a análise de diferentes relações entre fenômenos, num “fazer pedagógico” dinâmico, permitindo a interação e o diálogo no processo de construção e socialização do conhecimento, de maneira que professor e estudante juntos possam (re)significar o conhecimento. Para tanto, sugerem-se, como momentos metodológicos, uma problematização inicial para introduzir o assunto a ser estudado e a observação – reflexão –
informação, na seqüência. Observe-se que esses momentos se interligam numa dinâmica, num movimento constante, portanto não são estanques nem isolados (FONAPER, 2000, p. 34-35).
Desse modo, busca-se decodificar e analisar os elementos básicos que compõem o fenômeno religioso, enfocando os conteúdos em uma rede de relações, de forma progressiva, propiciando ao
estudante a ampliação de sua visão de mundo, o exercício do diálogo inter-religioso e a valorização das diferentes expressões religiosas e místicas, a partir do seu contexto sociocultural. A construção e a socialização do conhecimento religioso são subsidiadas pelos esclarecimentos do professor, pelo compartilhamento de experiências entre os estudantes, pela pesquisa em diversas fontes, pela leitura e interpretação de textos, pela análise de fotos, ilustrações e objetos simbólicos, pela confecção de cartazes, maquetes, álbuns, pelo acesso a filmes, entre outros. Dessa forma, por meio da descrição e interpretação de diferentes fenômenos e processos da realidade, pelo que são, sem preconceitos,
o Ensino Religioso permite a releitura do fenômeno religioso, favorecendo ao estudante a análise e a compreensão das manifestações do sagrado, a partir de sua realidade sociocultural.
O tratamento didático dos conteúdos precisa considerar:
- A necessidade de esclarecer pais e responsáveis acerca da proposta do Ensino Religioso, enfatizando a característica não proselitista dessa área do conhecimento, evitando assim a
imposição religiosa no espaço escolar.
- O planejamento das atividades de acordo com o ciclo, a série e a realidade de cada escola.
- A organização do espaço (sala de aula), de forma a facilitar o diálogo e a interação entre estudantes e professores, de acordo com o conteúdo e a metodologia.
- A organização do tempo na semana, prevendo um horário específico para o Ensino Religioso.
- O tratamento interdisciplinar do Ensino Religioso, contextualizando e estabelecendo a inter-relação dos conteúdos.
- A seleção criteriosa de uso de materiais (objetos simbólicos, fotos, textos, entre outros) e recursos didáticos.
- O estabelecimento de relações entre os saberes, facilitando o diálogo na mediação de conflitos.
- Os conhecimentos anteriores do estudante, como ponto de partida para a construção e a socialização do conhecimento religioso.
- A complexidade do fenômeno religioso.
- A possibilidade de aprofundamento gradativo, dada a amplitude dos assuntos abordados sobre o fenômeno religioso.
- O uso de linguagem pedagógica adequada ao contexto escolar, permitindo, assim, a decodificação do conhecimento religioso e a sua compreensão.
- O respeito e o reconhecimento do direito à liberdade de consciência e de opção religiosa dos estudantes.
- A necessidade de múltiplas leituras na abordagem da pluralidade religiosa.

Objetivos Gerais


Propiciar o conhecimento sobre o fenômeno religioso, analisando e compreendendo as diferentes manifestações do sagrado, a partir da realidade sociocultural do educando. Contribuir com a construção da cidadania, promovendo o diálogo inter-religioso, o respeito às diferenças, a superação de preconceitos e o estabelecimento de relações democráticas e humanizadoras.


Organização dos Conteúdos

O fenômeno religioso, como objeto de estudo do Ensino Religioso, deve ser o referencial para a seleção e a organização dos conteúdos, que são trabalhados de forma contextualizada e interrelacionada, na busca da superação da fragmentação dos conhecimentos e saberes.
A realidade do estudante deve ser o ponto de partida e o ponto de chegada no processo ensino-aprendizagem. Nessa concepção, consideram-se as peculiaridades ou particularidades da comunidade na qual se insere a escola para que o estudante chegue ao entendimento da diversidade das manifestações do sagrado e construa um referencial de respeito às diferenças.
O sagrado constitui o foco do fenômeno religioso, portanto o estudo desse fenômeno tem a intenção de propiciar ao estudante a compreensão das diferentes manifestações do sagrado, ressaltando o
respeito às opções das pessoas na busca da espiritualidade e no exercício do diálogo inter-religioso. Segundo OTTO, “sagrado é uma categoria que abrange algo inefável. Possibilita uma avaliação daquilo que é exclusivamente religioso, e que, ao seu tempo, escapa ao domínio racional” (apud BIRCK, 1993, p. 24).
O fenômeno religioso abrange uma multiplicidade de manifestações do sagrado no âmbito individual e coletivo. Assim, propõe-se que os conteúdos do Ensino Religioso sejam organizados a partir do eixo manifestações do sagrado. Esse eixo integra um amplo conjunto de conteúdos, alguns dos
quais são explicitados a seguir. Alteridade – Alteridade é o estado ou a qualidade daquilo que é “outro” ou diferente. Alteridade significa reconhecer o “outro”. “Alteridade é o ser outro, o colocar-se ou constituir-se como outro. A alteridade é um conceito mais restrito do que diversidade e mais extenso do que diferença” (DICIONÁRIO de Filosofia, 1970, p. 32).
Vivenciar a alteridade requer a valorização e a aceitação das pessoas com as suas singularidades, sejam estas pessoais, culturais ou religiosas. Para conviver numa sociedade pluralista, faz-se necessário reconhecer o direito à diferença, aceitando o outro com naturalidade e respeito. É possível conviver de modo harmonioso com pessoas de diferentes culturas, religiões, filosofias de vida e mentalidades.
Cada ser humano precisa compreender-se como um ser em relação com todos os seres da natureza e entender que a riqueza dos seres humanos e demais seres consiste nas diferenças e nas interações entre si. Assim, é importante aprender a ver o outro como ele é e deixar de querer transformá-lo ou convertê-lo naquilo que achamos ser o único padrão correto. A consciência de pertença no coletivo se constrói com base no respeito às diferenças, numa atitude de acolhida à diversidade. O respeito é o valor básico para a construção da paz, do diálogo e do entendimento entre as pessoas.
Ethos – Palavra de origem grega que significa caráter. “É a forma interior da moral humana em que se realiza o próprio sentido do ser. É formado na percepção interior dos valores, de que nasce o dever comoexpressão da consciência e como resposta do próprio ‘eu’ pessoal” (FONAPER, 1997, p. 37). Diz respeito aos costumes e maneiras de viver e conviver das pessoas. A ética religiosa, que faz parte do ethos, se relaciona ao sagrado e se constitui num conjunto de princípios, padrões de conduta,
prescrições, mandamentos e máximas que os fiéis ou adeptos devem assimilar e cumprir. Alguns desses preceitos se repetem em quase todas as religiões do mundo, como, por exemplo: não matar, não roubar, não praticar imoralidades, socorrer os necessitados, amparar os aflitos, amar o semelhante, promover a paz.
Cabe ao Ensino Religioso promover nos estudantes a percepção de que, mesmo nas diferenças, é possível uma convivência de qualidade. Importa ressaltar os pontos comuns das tradições religiosas,
místicas e filosóficas, que, em sua maioria, buscam organizar e estabelecer regras para a vida em sociedade, fundamentadas em valores comuns.
Tradições religiosas, místicas e filosóficas – Esse conteúdo aborda as diferentes tradições, analisando seu papel, origem histórica, mudanças evolutivas no decorrer dos tempos, estrutura hierárquica, ação social, modo de ser, pensar e agir das pessoas, bem como a possibilidade de diálogo inter-religioso. Aborda também o que é cultura religiosa e como se estabelecem as relações na convivência entre pessoas de diferentes crenças, permitindo, assim, a compreensão do fenômeno religioso. As religiões influenciam as várias formas de compreender e representar a natureza e o destino dos seres humanos. São fontes inspiradoras da arquitetura, da música, da dança, do teatro, da pintura, da poesia, entre outras. “Todas as religiões mudaram com o tempo, algumas mais relutantemente do que outras. A religião não vai desaparecer. Somos basicamente religiosos; somos preparados para a religião desde o berço, como somos preparados para inúmeros outros comportamentos básicos” (BOWKER, 1997, p.10). OTTO define religião como “o encontro do homem com o sagrado” (apud BIRCK, 1993, p.19), sendo o sentimento numinoso5 uma
característica exclusiva dessa área. Pode-se concluir que religião é a forma concreta, visível e social
do relacionamento pessoal e comunitário do ser humano consigo mesmo, com o outro e com o sagrado. Ou ainda que é um fenômeno que as sociedades humanas têm produzido em diferentes contextos geográficos, históricos e culturais para dar respostas às questões fundamentais da vida.
As tradições religiosas ou religiões, como sistemas organizados a partir de uma estrutura hierárquica, conjunto de doutrinas, ritos, símbolos e normas éticas, podem ser dogmáticas, mas também abertas
e flexíveis. Sua função básica, pelo menos no plano ideal, é contribuir para com o processo civilizador da humanidade, orientar as pessoas em sua busca e relação com o sagrado, dar respostas às questões existenciais e sustentação à existência da comunidade por meio de preceitos éticos. Exemplos de algumas tradições religiosas: Hinduísmo, Jainismo, Sikhismo, Taoísmo, Confucionismo, Xintoísmo, Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo, Islamismo e Fé Bahá’í.
Algumas tradições místicas e filosóficas não se caracterizam como religiões, mas como filosofias de vida e escolas de pensamento, embora possuam aspectos similares aos sistemas religiosos, como
rituais, símbolos, práticas espirituais e espaços destinados a reuniões. Em sua maioria, essas tradições têm como finalidade ensinar e capacitar as pessoas a viver em harmonia com as leis cósmicas e
naturais, de forma adogmática. AMORC – Antiga Mística Ordem Rosacruz, Gnosticismo, Maçonaria, Teosofia, Círculo Esotérico daComunhão do Pensamento e Sociedade Brasileira de Eubiose são alguns exemplos. Partindo das experiências dos estudantes, da descoberta de si mesmos como seres religiosos que participam ou não de determinada religião ou filosofia de vida, busca-se analisar e compreender as diferentes tradições presentes na realidade local e global.
Textos Sagrados – Para que os ensinamentos de uma religião se perpetuem, faz-se necessário que sejam transmitidos às novas gerações, na forma oral, escrita e pictórica, entre outros modos. Nos textos sagrados, pela revelação, o sagrado se faz conhecer aos seres humanos, transmitindo-lhes regras, mostrando sua vontade e seus mistérios. Cada tradição religiosa os tem, e seus ensinamentos
são referenciais de fé e fundamentos das normas de conduta para os seguidores. Eis alguns exemplos: Vedas ou Escrituras Védicas são textos sagrados do Hinduísmo; o Sutra de Lótus e o Pali Tripitaka são do Budismo; o Tanach é do Judaísmo; a Bíblia, do Cristianismo; o Corão, do Islamismo; o Kitáb-I-Aqdas, da Fé Bahá’í. Há textos escritos cujo processo de produção ocorreu ao longo da história, em diferentes contextos culturais e geográficos. Inicialmente, alguns desses textos eram transmitidos oralmente. Depois de um tempo mais ou menos longo, foram escritos e elegidos, passando a constituir o cânon, ou o conjunto das escrituras sagradas. Os textos sagrados, fruto da caminhada religiosa de um povo, são sempre elaborados num determinado contexto histórico, por isso
exigem uma interpretação e exegese posterior. Expressam mensagens e, nesse aspecto, podem ser escritos, desenhados, pintados, falados, dançados, enfim, podem ser transmitidos por meio de várias formas comunicantes do significado religioso. Conhecer as diferentes linguagens simbólicas que constituem as culturas religiosas e suas tradições possibilita a (re)leitura dos textos sagrados e seus mitos.A linguagem mítico-simbólica encontra-se nos textos sagrados de diversas tradições. Por meio dessa linguagem metafórica, busca-se explicar realidades além da categoria racional.
Rito e mito caminham juntos. O rito complementa o mito e viceversa. O mito é uma tentativa de explicar algo utilizando uma linguagem metafórica. Muitas vezes os mitos explicam acontecimentos
que deram origem ao mundo, como, por exemplo, os mitos de criação. O mito tem por objetivo dar uma explicação geral da existência, e não revelar fatos históricos.
No senso comum, a palavra mito é utilizada em sentidos diferentes. No contexto religioso, traz conotações psicológicas profundas, apontando para processos da espiritualidade humana. Segundo ELIADE (1992), todo rito, todo mito, toda crença ou figura divina reflete a experiência do sagrado, que é um elemento presente na estrutura da consciência humana. Assim, o texto sagrado, para algumas tradições religiosas, possui um grande valor e significado espiritual, sendo considerado como a palavra divina revelada, e não apenas um simples livro histórico. Por isso, é digno de respeito e veneração.
Símbolos Religiosos – Os símbolos religiosos são linguagens que comunicam idéias do âmbito do sagrado. Têm também valor evocativo, mágico e místico. Desde as mais antigas civilizações até a atualidade, as tradições religiosas e místicas produziram uma vasta representação simbólica para comunicar suas idéias, perpetuar e reforçar valores e ensinamentos sobre o sagrado. Essa linguagem se apresenta na forma de desenho, pintura, escultura, arquitetura, vestimenta, alimentos, elementos da natureza, entre outras. Todo símbolo permite múltiplas interpretações. Para o fiel ou adepto de determinada tradição, o símbolo religioso pode evocar a presença do sagrado, proteção e auxílio divino. Segundo SANDNER (1997, p. 22), símbolo é qualquer coisa que pode veicular uma idéia, como um numeral, uma palavra, um ato, um rito, um sonho, uma obra de arte. Qualquer elemento pode ser, desse modo, um símbolo que porta um conceito que lhe dá significados.
Espiritualidades – As espiritualidades são métodos ou práticas que
permitem aos adeptos uma relação imediata com o sagrado. A prece, a
leitura de um texto sagrado, a entoação de cânticos litúrgicos e a
meditação são alguns exemplos de espiritualidades.
Ritos e Rituais – o rito se refere a uma técnica mágica ou religiosa que visa controlar as forças naturais, objetivo de que as técnicas racionais não dão conta. O ser humano obtém relativa garantia de salvação em face dessas forças (DICIONÁRIO de Filosofia, 1970). Os ritos são gestos simbólicos sagrados, linguagens corpóreas que muitas vezes dispensam palavras. O ser humano ritualiza para
expressar seus desejos, sua fé e seu sentimento religioso. Uma série de ritos forma o que chamamos de ritual, ou seja, o ritual designa um conjunto de ritos, como, por exemplo, o batismo (DICCIONÁRIO del Cristianismo, 1974) Os rituais são dinâmicos: mudam conforme a época e as
circunstâncias. Muitas tradições possuem seus próprios rituais para celebrar os momentos importantes na vida de seus adeptos. Existem os rituais de passagem, litúrgicos, celebrativos, divinatórios, mortuários, entre outros. “Os ritos de passagem se associam às grandes mudanças na condição do indivíduo. As principais transições marcadas por esses ritos são o nascimento, a entrada na idade adulta, o casamento e a morte” (HELLERN, NOTAKER E GAARDER, 2000, p. 28). Os mitos, algumas lendas e os grandes acontecimentos religiosos são revividos através de rituais,  inguagens pelas quais muitas pessoas articulam e lidam com suas esperanças e temores.
Espaços Sagrados – Entre os diversos espaços considerados sagrados, alguns tiveram origem em uma história ou lenda queenvolveu uma hierofania (manifestação do sagrado); outros foram construídos pelos homens e se tornaram centros de peregrinações ou romarias: são os templos, os santuários, as catedrais, as capelas, os locais de prece e meditação, as mesquitas, os terreiros, etc.
Segundo ROSENDAHL (1999), os santuários paleolíticos são exemplos dos primeiros indícios de vida cívica. A caverna desempenhou uma função importante na expressão da arte e na realização de rituais da época. Lugares sagrados, como rios, montanhas, cidades, florestas, cavernas e grutas sempre exerceram forte atração. A função desses lugares é ser a morada e a manifestação do sagrado. Ali o devoto peregrino ou romeiro pode, de modo privilegiado, realizar a sua experiência de fé ou experiência do sagrado, por meio de práticas devocionais e do pagamento de promessas. As práticas religiosas em espaços sagrados conferem-lhes característica própria, firmada pela expressão do sagrado. Esses espaços podem, porém, apresentar outras funções além da religiosa, como a de turismo e de comércio. Há tradições religiosas, como o Catolicismo, o Hinduísmo, o Islamismo, o Budismo e a Fé Bahá’í, que incentivam seus adeptos a realizarem peregrinações, como motivação para o fortalecimento e vivência mais intensa da espiritualidade. Muitas pessoas procuram esses lugares ou espaços sagrados para cumprir promessas ou fazer votos, pedir e agradecer benefícios ou
graças alcançadas.
Crença na Vida Além-Morte – Cada religião, cada filosofia de vida interpreta a realidade última do ser humano de maneiras diversas, entre elas: ancestralidade, reencarnação, ressurreição e nada. - Ancestralidade: crença defendida por algumas tradições antigas de que a vida dos antepassados continua presente de alguma forma. Em algumas tradições, os espíritos dos antepassados manifestam-se em elementos da natureza. Para a ancestralidade, os antepassados são presença constante através das gerações.
- Reencarnação: doutrina que afirma que o indivíduo possui um elemento independente de seu ser físico, que, após a morte, pode renascer em outro corpo, num processo de expiação, evolução e autoredenção. Essa crença está presente em diferentes religiões e filosofias de vida.
- Ressurreição: ação de voltar à vida. Tradições religiosas como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo apresentam interpretações diferenciadas sobre a doutrina da ressurreição dos mortos. Algumas tradições religiosas, por exemplo, acreditam que a ressurreição acontecerá no que chamam “dia do juízo final”, quando todos os seres humanos ressuscitarão para serem julgados e recompensados segundo as suas obras. Os justos ressuscitarão para a felicidade eterna, e os
injustos, para serem punidos.
- Nada: é a negação da vida além-morte, que recebe diferentes interpretações conforme o grupo social. Por exemplo, para alguns, a morte consiste em uma dissolução completa daquilo que era e, para outros, essa dissolução é uma dispersão de partículas atômicas que retornam ao Universo.


2 comentários:

  1. Estas informações mostram que o Ensino religioso está disponível de maneira sucinta e de fácil compreensão.
    Obrigado!

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